quinta-feira, 16 de julho de 2015

Sicilia - histórico














Tomar, Portugal





Viagens 5- Rumo a Lisboa

Turistas passam ao largo de crises. Filas nos monumentos, bares cheios, luzes acesas, bermudas e chapéus passeiam pelas ruas, não há pedintes nem miséria à vista. Apenas alguns cartazes de partidos de esquerda com a palavra de ordem “fora o euro, de volta o escudo” dão a perceber que pode haver algo fora do lugar. Tomamos o caminho para Tomar, cidade no meio do caminho entre Coimbra e Lisboa, escala para conhecer o Convento de Cristo (na foto). O meodrive nos ensina a rota e tomamos uma autoestrada com pedágios eletrônicos, que fazem apitar o sensor em nosso para-brisa. A estrada está deserta. Nenhum caminhão, pouquíssimos carros. Vários apitos do sensor indicam que as consequências virão depois, na conta da Avis em meu cartão. Finalmente, ao nos aproximarmos de Tomar, saímos da estrada e entramos em vias mais movimentadas, com um sentimento de volta à normalidade. A crise nos apareceu na forma de estradas vazias. Leio agora uma matéria de uma revista especializada em transportes que as autoestradas construídas ao longo dos anos de prosperidade do euro estão deficitárias por falta de movimento e desvio para rotas de menor custo. Os caminhões trafegam à noite, quando o pedágio é reduzido em 25%. Portugal hoje tem uma infraestrutura rodoviária das melhores da Europa, de primeiro mundo, mas deficitária. O meodrive nos havia perguntado, ao início do percurso, se optávamos pela rota com pedágio, o que fizemos, e ele então nos mostrou o tamanho da crise. Semelhante à crise imobiliária, investimentos com dívida e sem retorno para amortiza-la.

De volta ao passado, o Convento de Cristo aparece, ao alto de um morro. Ele foi a sede da Ordem de Cristo, é um enorme convento fortificado, construído a partir da cidadela de Thamara, tomada dos mouros. Quando da Reconquista , os cavaleiros da Ordem do Templo, os Templários, tiveram papel importante no que foi uma cruzada bem sucedida, a expulsão dos mouros de Portugal. O rei fundador de Portugal, D. Afonso Henriques, recompensou-os com direitos sobre as terras retomadas. Em 1314, o Papa suprimiu a Ordem na Europa, num acordo político com o rei da França, que prenunciava o início da etapa absolutista no continente. Felipe o Belo, soberano francês, mandou queimar o prior Templário na fogueira. Em Portugal, o reino ainda necessitava de sua força militar. O Rei D. Dinis conseguiu do Papa a transformação da organização em Ordem de Cristo e tudo continuou do jeito que estava. No século XV, a casa real de Avis, desejosa de controle sobre os recursos dos monges cavaleiros, instituiu que o prior da Ordem seria nomeado na casa real. O Príncipe Henrique- o Navegador, filho mais novo do Rei tornou-se o prior e orientou o investimento dos recursos da Ordem no empreendimento de navegação que iria explorar a costa da África e que culminaria, ao fim do século, com a descoberta da rota marítima para as Índias e com o melhor momento da história de Portugal. As velas das naus traziam a cruz de malta, o símbolo dos templários.

Caminhamos pelos corredores do castelo, poucos turistas sobre as pedras seculares, vimos as celas dos monges e os diversos átrios funcionais, onde se organizava a vida monástica. Saímos por um pátio onde uma senhora vendia em sua carrocinha frutas secas feitas por ela. Compramos um saquinho de figos e nos sentamos em um quiosque para almoça-los, acompanhados por uma superbock. Iríamos então seguir os passos de D. Afonso Henriques, que de Tomar foi para Lisboa, para finalizar a conquista do Ribatejo aos mouros, com a ajuda da frota dos cruzados ingleses, que entrou no Tejo e se uniu às tropas portuguesas. Essa história é recontada com várias nuances no livro de Saramago “A história do cerco de Lisboa”. Uma boa sugestão de leitura.

O meodrive levou nosso carrinho Lisboa adentro, até a Praça do Chiado, movimentadíssimo centro comercial e turístico lisboeta. Deixei a tecnologia de lado e perguntei a um guarda com jeito de oficial do BOPE onde estava a Rua de São Paulo, endereço do apartamento de uma amiga, onde iríamos ficar. Mandou-me seguir os trilhos do elétrico (bonde) até cruzar a segunda rua, que era a nossa. Chegamos ao apartamento, uma bonita mansarda reformada, dois quartos, tudo lindo e moderno, só para nós dois. Carro guardado, supermercado feito, abrimos o vinho douro que trouxéramos da Quinta do Portal e o queijo da serra. Lisboa, só amanhã.

 
 
 
 
 
FONTE: https://www.facebook.com/flavio.salek/posts/10202798470786056:0